sexta-feira, 13 de abril de 2012

Encontros e desencontros


Após uma tarde chuvosa, a noite pedia uma cerveja gelada. O clima era agradável, como há muito não se sentia na capital paulista. A medida era exata, certa, no ponto, o que dava a impagável sensação de equilíbrio natural das coisas.

O relógio marcava 21h30 quando, ao invés de me enveredar pelos bares ou baladas da Paulicéia desvairada, opto em adquirir uma obra de crônicas recém-lançada do mestre Tostão. A Livraria Cultura fora a escolhida e a Avenida Paulista, como habitual, era magia pura.

Sozinho, mas rodeado de gente – dessas contradições que só São Paulo proporciona – começo a ler o livro mentalmente, antes mesmo de vê-lo, de tocá-lo, como quem busca vaticinar o imponderável. Imagino alguns textos, o formato e logo me vem à mente as obrigações, os prazos e o desespero. Sorte a minha que todos acompanhados da confiança.

Chego ao Conjunto Nacional que é daqueles lugares que se deve conhecer. Dirijo-me à livraria famosa e vou à sessão que me interessa. Entre uma curta leitura e outra, peço auxílio ao profissional que logo traz o que quero. Com o livro em mãos, já começo a pensar no caminho de volta. E como não costumo trocar uma boa caminhada por nada, decido ir a pé para casa, o que é sempre um prazer.

Já na rua, a noite que, para mim, se aproximava do encerramento era só o começo de insanidades que boa parte da juventude está sempre disposta a cometer. Bares lotados e o casual encontro de tribos. Lindo, fantástico, característica que faz da cidade cada vez mais especial.

As cenas de miséria se misturam com as de luxo, algo que nem um dos lugares de metro quadrado mais caro do país fora capaz de exterminar. Uma pena, mesmo, e reflexo do Brasil das diferenças. Passo a observar os que bebem a vida em copos de cerveja. Nas mentes, utopias, reflexões, experiências e inúmeras lições. É um exercício gostoso, prazeroso até.

As pernas já doíam quando noto, vindo em minha direção, muito bem acompanhado, o roqueiro Marcelo Nova, que deixara de ser meu ídolo semanas antes, quando assisti o documentário sobre a vida de Raul Seixas. Apressado, interrompi o diálogo do casal com um boa noite. O “E aí, fera?” foi a resposta, que veio na companhia de um balbucio e da sugestão para atravessar a margem, já que um tumulto se formara à frente do meu ex-ídolo.

Deixei os pombinhos para trás e segui em frente com os meus devaneios. Os pensamentos se voltavam para a vida, o futuro, o presente, as convicções, as mazelas, as soluções e a eterna busca pelos sonhos.

Ah, o livro comprado fora ‘ A perfeição não existe’. O Tostão é gênio!