segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ode ao bom jornalismo

Os documentários apresentados pela ESPN Brasil sobre a Operação Condor e os anos de chumbo na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai mantêm a certeza de que o bom jornalismo resiste.

Gol de placa do jornalista Lúcio de Castro.

Abaixo, o episódio sobre a ditadura militar brasileira.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sobre flamenguistas, corintianos e pesquisas

Mauro Cezar Pereira, dos canais ESPN, foi cirúrgico no Linha de Passe da última segunda-feira.

Clique na imagem e veja a partir do minuto 01’38.

Em tempo: Onde assino?

(Atualizado na sexta-feira (20), às 19h40)

Em tempo 2: Clique aqui e leia mais sobre os assuntos, com questionamento, inclusive, da invasão corintiana, em 1976.




quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Só o futebol

Na partida contra o Celtic, o Barcelona teve maior posse de bola, como virou regra. O melhor jogador do mundo, Messi, para variar, marcou de novo.

Mas, desta vez, a equipe catalã perdeu, como não acontecia há três anos na fase de grupos da Liga dos Campeões.

O time escocês, que completou um século e um quarto nesta semana, com o resultado, fez com que até o astro Rod Stewart chorasse.

Resultado espetacular e muitas lágrimas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Viver e sonhar

“O futebol, no Brasil, não é para gente séria.” Cirúrgico, o saudoso Telê Santana explanou o pensamento do que resta de gente séria no jornalismo esportivo e da maior parte dos torcedores, vítimas de gestores nada excelsos e que, há tempos, infelicitam o que muitos consideram a maior paixão nacional. Dirigentes que aceitam tudo para fazer parte do jogo sem se importarem com suas biografias já que, munidos de asseclas, aliam-se ao amadorismo para justificar a má administração.


Junte-se a isso a cordialidade brasileira e dos torcedores, a quem somente interessa o futebol ou deveria, e a capacidade de realizar protestos que soam  ineficazes perante a perpetuação no poder de sujeitos que só levaram vantagens sem deixar nenhum ou pouco benefício. E não são poucos os de boa índole que denunciam e até fiscalizam, mas veem suas descobertas e convicções silenciadas por aqueles amantes do mais do mesmo, que querem tudo como exatamente está, felicidade de poucos, tristeza de muitos e lamentação de raros conscientes.


Já foi dito inúmeras vezes que o ludopédio nacional caminha rumo à vala comum da mediocridade, não somente pelas táticas e métodos adotados dentro de campo, capazes de fazer da maior escola de futebol do mundo uma provável coadjuvante na próxima Copa, ironicamente disputada em solo tupiniquim. Reflexo nada mais e nada menos do desmando que vem de cima, da falta de qualificação e da ausência de vontade de alguma mudança.


A alienação é tamanha que há quem ache que houve evolução, já que não há mais viradas de mesa e coisas do tipo, incapazes de compreenderem que são ações meramente ilustrativas ou que só maquiam o problema, o cerne da questão, este sim, que merece atenção especial.


E o tempo passa, nada muda e sobra para os esperançosos, aqueles que buscam um futebol limpo, moral e que só encha de orgulho, a alcunha de quixotescos. Não que seja missão impossível, mas muito difícil. É viver e sonhar.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Fluminense, o título e o futebol de resultado

Foto: Felipe Oliveira / Agência Estado

A vitória sobre o Bahia, ontem, em Pituaçu, foi o símbolo máximo de um Fluminense efetivo, mas que não encanta.  Uma equipe dotada de raros talentos individuais, porém que passa longe do essencial para um time, vítima da já exaustiva ideia de que futebol limita-se ao resultado, jogando para escanteio o já quase extinto espetáculo. Os 2 a 0 saíram de lances isolados, como virou regra nos duelos do tricolor carioca neste Brasileiro.

Nem de longe a intenção é menosprezar o que o escrete de Fred e companhia fez até aqui. Líder isolado, com vantagem de nove pontos para o Atlético MG, segundo colocado, seria até natural que, ao futebol do Flu, só aparecem elogios. Mas, não, o time poderia alçar voos maiores, rumo à conquista que tinha tudo para se tornar eterna. 

Conhecidas, as convicções de Abel Braga prezam pelo futebol defensivo, em que o não tomar gol é mais importante do que fazê-lo, mergulhado na tal praga pragmática que assola, há tempos, o ludopédio tupiniquim. 

Tão cristalino quanto o tricolor das Laranjeiras representar algo que os amantes do velho esporte bretão  já não suportam é o fato de que o título se aproxima. E tão difícil como imaginar a equipe de Cuca, de futebol mais vistoso, e o Grêmio de Luxa tomarem o que será ao Fluminense de direito é pensar que, a partir de agora, os cariocas mudarão o estilo que tanto deu certo.

É o futebol brasileiro que caminha rumo à vala comum da mediocridade, num país em que o jogar para frente virou sinônimo de derrotas, além de produzir técnicos e times que vão de encontro à essência do que um dia chamamos de paixão nacional. Se futebol fosse só isso, certamente não gostaríamos tanto. 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Atlético como esperança



Bruno Cantini/Site Oficial 

O título conquistado em 1971 anda presente na memória até dos torcedores que nem eram projetos de vida à época. O distante primeiro e único título brasileiro do Atlético MG, após longos 41 anos, tem tudo para ganhar uma companhia de mesmo quilate. O time de Cuca não se contenta em vencer, consegue convencer e encantar àqueles já exaustos da tal praga pragmática que assola há tempos o futebol nacional.

Veja só, com rosto de menino e sonhos de aventura, o garoto Bernard candidata-se, cada vez mais, a ser o que dele se esperava. Já Ronaldinho Gaúcho, que deixou de ser solução para tornar-se alternativa, não só é útil como ainda alcança lampejos do jogador de outrora. 

Renegados em outras equipes, Jô e Pierre são efetivos. No banco, um técnico que carrega nas veias a ofensividade e que parece ter atingido o equilíbrio emocional que faltara em anos anteriores. Nas arquibancadas, uma massa pronta para explodir como nunca por um título aguardado há tantos verões.

Símbolos de um Atlético que jamais chegou tão forte desde que o principal campeonato do país passou ser disputado pelo sistema de pontos corridos. E que parece ter extirpado, de vez, o fantasma de cavalo paraguaio passadas 24 rodadas da competição.

Enfim, um time que teve Telê Santana como técnico na sua grande conquista e que se aproveita do legado deixado pelo mestre para tentar provar, de novo, que futebol ofensivo e título podem conviver em plena harmonia. 

Renasce a esperança.

Agora, em São Paulo





No dia 2 de Outubro, uma terça-feira, a Editora Multifico promove o lançamento da obra "Perder é do Jogo - As Maiores Tragédias de Flamengo e Fluminense", dos autores Alisson Matos e Danilo Quintal, em São Paulo.

O evento, que começa às 20h, acontecerá na Mercearia São Pedro, localizada na Rua Rodésia, 34, Pinheiros/ Vila Madalena. Próximo à estação de metrô.

Evento semelhante foi realizado no Rio de Janeiro no último mês. Abaixo, a repercussão do lançamento por lá.


Matéria da Fox Sports:



Sinta-se convidado.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Noite de uma estrela só


Foto: Paulo Fonseca / Futura Press


A noite azul de Belo Horizonte parecia desenhada em homenagem ao Cruzeiro que desfilava o seu futebol, ao estilo Celso Roth até a medula, no feérico Independência com público menor do que habitual. E o espetáculo ficou ainda mais empolgante quando Tinga, ao 19 minutos, fez o primeiro e candidatou-se logo a corpo celeste que mais brilharia na ocasião.

 Mas se há um time que entenda de astros é o Botafogo, adversário da rodada, que com sua estrela solitária encarnada no holandês Seedorf só não empatou como, logo em seguida, virou a partida para desespero do escrete da casa e alegria alvinegra.

 Em campo, eram os onze valentes das Minas Gerais contra um homem, um craque, um mito, que só não fez chover para manter a felicidade geral dos legionários cariocas que não mereciam ver o brilho do camisa 10 ofuscado.

 O jogo era pegado, aguerrido, medíocre e genial. Dessas contradições que só o futebol é capaz de explicar, pois, se de um lado, o excesso de cautela mantinha o diapasão, do outro, o talento em demasia trazia à tona reminiscências de um futebol quase extinto.

 A partida já tinha dono e o destino tratou de fazer a sua parte quando em um contra-ataque, já na segunda etapa, a bola encontrou os pés do gringo que, iluminado como nunca e inteligente como sempre, achou o companheiro Jadson para dar números finais ao duelo.

 Placar justo e inquestionável na disputa em que o símbolo de um clube nunca fez tanto sentido.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Perder é do Jogo – As Maiores Tragédias de Flamengo e Fluminense

Matéria do Central Fox, da Fox Sports Brasil, sobre o lançamento do livro “Perder  é do Jogo – As Maiores Tragédias de Flamengo e Fluminense”, escrito por Alisson Matos e Danilo Quintal.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Lançamento do livro "Perder é do Jogo – As maiores tragédias de Flamengo e Fluminense"



Perder é do Jogo – As maiores tragédias de Flamengo e Fluminense


Autores: Alisson Matos e Danilo Quintal

Páginas: 86

Preço de capa: R$ 35


Lançamento: 28 de agosto, terça-feira

Local: Espaço Multifoco – Av. Mem de Sá 126, Lapa, Rio de Janeiro

Hora: das 18h às 21h

Mesa-redonda: 19h30


Mesa-redonda


Os 100 anos do Fla x Flu e as maiores

derrotas de dois gigantes do futebol brasileiro



Participação:

Marcos Eduardo Neves

Escritor e jornalista esportivo, Marcos Eduardo Neves trabalhou como assessor de imprensa e, mais tarde, como repórter e editor em importantes veículos de comunicação. Autor com livros no Brasil e no exterior escreveu, entre outras obras, as biografias de Heleno de Freitas (Nunca houve um homem como Heleno) e do publicitário Roberto Medina (Vendedor de sonhos, no Brasil e em Portugal, e Vendedor de Sueños, na Espanha). Hoje é diretor-chefe da MEN PRODUÇÕES JORNALÍSTICAS e sócio na ROTATIVA.ART.BR.

Cesar Oliveira

Carioca, quase sessentão, editor de livros de futebol, botafoguense militante, mangueirense apaixonado, tarado por bossa nova, sushi e sorvete, cozinheiro razoável. Marido de Marcia. Pai de Bernardo, Rodrigo, Diogo e Thiago.

Alisson Matos

Jornalista antes de ser flamenguista. Nasceu em Nanuque, interior de Minas Gerais, em 1988.  Escolheu a cidade de São Paulo para seguir o seu rumo. Metido à escriba, resolveu se enveredar pelo futebol, pela poesia e pela crônica. Utópico à moda antiga, tem convicção de que faz o que gosta. E, para ele, é o que importa. Custa a crer que realizou um sonho.

Danilo Quintal

Poeta e jornalista. Paulista de natureza e sãopaulino de coração. Apaixonado por futebol, pelo cotidiano e pelo universo das letras. Faz da escrita, antes de tudo, uma filosofia de vida. Para ele, ser jornalista é uma responsabilidade social. E a convicção de buscar um mundo justo é o que faz suas letras respirarem.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Efeito Patrícia


Foto: Alexandre Vidal/FlaImagem


A normalidade se estabelecia pelos lados rubro-negros da Guanabara. Eram duas vitórias nos últimos duelos e o padrão de jogo, tão desejado nos idos tempos de Joel Santana, enfim, alcançado. Dorival Júnior assumiu o time e a paz com os bons resultados parecia selada.

Parecia.

Até que a manda-chuva flamenguista retornou de Londres e passou a assombrar até o mais otimista torcedor do clube, que insistia em acreditar na recuperação. Não bastavam a desordem criada e a incompetência explicitada, Patrícia Amorim trouxe com ela da Europa o temido azar.

Ou como explicar a expulsão de Íbson em um lance bobo, num jogo absolutamente equilibrado? Ou ainda buscar palavras para o impedimento de Barcos no momento do gol? Quem sabe tentar saber o que houve com Vágner Love, que marcou os últimos tentos da equipe no campeonato, mas que nada fez no jogo de hoje.

Só Patrícia e o acaso para elucidarem, pois enquanto César Cielo via a medalha de ouro escapar, Diego e Danielle Hypólito eram eliminados precocemente da Olimpíada e a presidenta ostentava a má sorte em terras bretãs, o Flamengo subia na tabela e notava os problemas exaurindo-se.

A boa fase durou pouco tempo e o mau futebol voltou a ser apresentado. “Culpa da Patrícia”, dirá o apaixonado preocupado com o restante da competição. Ah, se os Jogos de Londres fossem eternos.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O sabor da conquista

Foto: LOCOG



Foram quatro anos de preparação que seriam decididos ali, nos próximos minutos, no campo de batalha que tanto sonhara em estar. O esforço feito, quase impossível de dimensionar, a um passo de tornar-se glória, como acontece em narrativas que fazem de ídolos heróis e atletas mitos. 

Nas costas, o peso de uma nação que carrega nele a esperança. A poucos metros dali, o posto desejado é deslumbrado com um olhar sorrateiro, desconfiado, de quem não alimenta muita expectativa para um possível êxito. Sábios são os que vão à disputa sem exagerado entusiasmo, mas com a alma dos valentes. Estes, quase sempre, com a obstinação que vem de berço, alcançam o topo.

O ambiente exalava pressão e os últimos arranjos separavam-no da tão almejada conquista. Foi dado o início e, em sua mente, passavam as consequências do revés e, também, da vitória. Na competição, uma perigosa linha tênue costuma separar o céu do inferno. Então, resolveu converter a apreensão em garra e o medo em luta. Lembrou-se das dificuldades, da falta de patrocínio, da escassez de apoio e do que significava tudo aquilo.

Ouvia, ao fundo, incentivos que vinham por meio de sussurros quase silenciados pela imensidão do ambiente. Chegou a pensar que era o seu subconsciente alarmando que havia quem acreditasse no triunfo. Agarrou-se no objetivo e começou a crer na realização de um sonho. As lembranças da infância, do fim dos contos de fadas, da descoberta que o Papai Noel e o Coelho da Páscoa não existiam vieram, novamente, à tona.

Deixou as reminiscências para trás e buscou concentrar-se. A tarefa deixara de ser fácil desde que deixou o seu país, tamanha a responsabilidade que era representá-lo. Queria voltar com o nome cravado na eternidade, mas conhecia os seus limites. A reta final aproximava-se, os músculos doíam, o cansaço era evidenciado e as lágrimas estavam prontas para ganhar o mundo. 

Dali até o fim da disputa, recorda-se, somente, da contemplação. Havia chegado a hora. A sua hora.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Enfim, o ouro?


Rafael Ribeiro / CBF


É um longo tempo de espera e uma ambição que ainda não foi saciada. De quatro em quatro anos, o discurso é exaustivamente repetido e a geração sempre supera a anterior. A nova safra ganha ares de praticamente imbatível e o clima produzido colabora para, via de regra, a decepção.

Desta vez, Ganso, Neymar, Leandro Damião, Oscar e companhia têm a missão de superar os dois bronzes em 1996 e 2008, além das duas pratas na década de 1980. A seleção brasileira chega, mais uma vez, como uma das favoritas e, agora, com um adendo: é a base da equipe para a Copa daqui a dois anos.

Mano Menezes sabe de suas responsabilidades. O discurso do treinador, que desde o início do trabalho tem sido bem coerente, não colaborou com os resultados e um possível revés em Londres deve selar  o seu destino longe do comando. 

A equipe, enfim, tem uma cara, uma forma de jogar, e o teste de fogo chega justamente no oportuno momento. É a chance de se provar que os jovens talentos podem manter acesa, como a tocha olímpica, a esperança dos torcedores brasileiros para o próximo Mundial.

Há até quem prefira mais o ouro do que a conquista em 2014. Que os deuses do Olimpo estejam ao nosso lado.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Deu pena


Reprodução/Gazeta Esportiva


Com 20 minutos de jogo no Engenhão, o abismo que separa Corinthians e Flamengo era simbolizado nos cinco chutes a gol do time paulista contra apenas um e solitário arremate carioca. Era o atual campeão da América contra o medíocre escrete de maior torcida do país, vítima de uma administração que beira o escárnio.

E se o goleiro Paulo Victor era o nome do jogo, por ter evitado o primeiro tento da equipe comandada por Tite, deixou de ser aos 27 minutos quando Douglas tirou o zero do placar e começou abrir a cova do técnico adversário, Joel Santana.

Mas como Flamengo é Flamengo e tudo pode acontecer, Douglas e companhia não deixaram os oponentes gostarem do jogo e trataram logo de silenciar o estádio de vez, aos 39, novamente com o meia.

Restava a torcida rubro-negra torcer para a primeira etapa acabar, o velório de Joel ser interrompido e, quem sabe, com a benção do Cristo Redentor, voltar com alma dos guerreiros, aquela que não comparece há tempos na Gávea.

Que nada, pois logo no inicio do segundo tempo Danilo tratou de matar a esperança guanabara com o terceiro gol do duelo. Era triste, era vergonhoso, era humilhante e era Flamengo, que se limitou a tocar a bola, sem organização e criatividade, como quem deseja algo e não é capaz de alcançar.

O Corinthians, impávido, com a segunda vitória consecutiva pode, sim, sonhar com as primeiras colocações. Já o adversário da noite, em um Engenhão que já não é todo prosa, parece estar fadado a dançar, sem talento algum, um samba de uma nota só.

É triste.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Futebol, meus caros


‎"O jeito com que nossos times jogam é irrelevante para a maioria de nós, da mesma forma que ganhar taças e campeonatos é irrelevante. Poucos de nós escolheram nossos clubes, eles foram simplesmente apresentados a nós; e, sendo assim, quando eles são rebaixados da segunda divisão para a terceira, vendem os melhores jogadores, compram jogadores que você sabe que não podem jogar ou lançam um chuveirinho 700 vezes na direção de um centroavante de 3 m de altura, simplesmente praguejamos, vamos para casa, ficamos agoniados por uma quinzena e depois voltamos para sofrer tudo isso de novo mais uma vez

Do escritor inglês Nick Hornby.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Gigante adormecido




Dos grandes, por estar acostumado com imensas conquistas, era o que mais sofria. Aquele Palmeiras campeão brasileiro, da Libertadores e que chegou à final do Mundial parecia ser um time distante, dos sonhos de utópicos e quixotescos torcedores, que nos dias atuais mais amam do que comemoram,  mais choram do que sorriem.

O time verde mais importante do mundo parecia fadado ao fracasso, às falcatruas, aos desmandos e ao padecimento. Seus legionários também, vítimas do destino, que tratou de colocar as pessoas erradas no lugar errado.

A tal luz no fim do túnel, que para muitos com o passar do tempo apaga, seguiu viva no rumo alviverde que, gigante que é, ficou por longos e duros anos adormecido, mas jamais deixou de acreditar.

Derrubou adversários superiores, venceu os próprios limites e fez despertar quem sempre é a última a morrer, a esperança. Felipão, Marcos Assunção e companhia saíram do incômodo posto de desacreditados e chegaram ao topo desejado por todos.

A final da Copa do Brasil, contra o Coritiba, foi o retrato de toda a competição. Pela frente, um time mais organizado e todas as adversidades necessárias para aqueles que precisam dar a volta por cima. Sem Valdívia e Barcos, o Palmeiras tinha a alma, pintada de branca e verde e mais iluminada do que nunca.

E o sorriso palmeirense voltou a ser visto quando Marcos Assunção colocou a bola na cabeça de Betinho, que empatou o jogo no Couto Pereira, numa partida que tinha tudo para ser trágica como nos últimos anos.

Mas não foi. Desta vez, deu Palmeiras, deu Felipão e deu o gigante, que estava adormecido para ser despertado no momento de glória e provar, mais uma vez, que quando o time é grande a camisa, muitas vezes, joga sozinha.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Fez história


Reprodução


Estava escrito. E tinha que ser assim. Eram 102 anos do clube mais invejado do país e uma torcida que, por representar o povo, já sentiu na pele o sofrimento, a angústia e a decepção. Uma vida mais do que centenária de reveses que, quando se transformam em glórias, escorrem pelos olhos em forma de lágrimas e pulsam como nunca em milhões de corações alvinegros espalhados por todos os cantos do país.

Era chegada a hora. Noite de quarta-feira, Pacaembu, e uma final de Libertadores inédita para o bando de loucos. O estádio, pintado em duas cores, era palco do maior duelo dos últimos tempos e a fiel testemunhava uma partida daquelas que devem ser guardadas para sempre na memória.

E foi no peito, na insistência e na raça, assim, do jeito que o corintiano se acostumou, que Emerson abriu o placar após lindo passe de calcanhar de Danilo já no segundo tempo. A torcida explodia e soltava o grito preso desde os tempos de Pelé, de Raí e de Marcos, ídolos de times rivais, de torcedores que sempre utilizaram deste argumento para rebaixar o que não se rebaixava, para humilhar o que não se humilhava e para diminuir quem jamais se apequenou.

O palco do espetáculo tremia e aguardava a convicção. Que veio com o segundo tento da partida, de novo com Emerson, que parecia beliscar cada torcedor convidando-o a acordar do sonho, que deixara de ser pesadelo, e fazer parte daquela história que será contada de avô para neto, de pai para filho, de louco para louco e de fiel para fiel.

O time do imponderável, da fantasia e do encanto. A mística corintiana em mais um capítulo. Desta vez, numa conquista que faz jus à eternidade.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quebrando barreiras



Marcos Ribolli
É a quarta semana consecutiva que escrevo aqui sobre o Corinthians e, já adianto, terá uma próxima. Mas como não falar do último campeão brasileiro que, ao estilo Tite até a medula, tem tudo para conquistar, pela primeira vez, a América?

Sim, pois das vexatórias e trágicas eliminações alvinegras em Libertadores anteriores só restaram as lembranças e a experiência, pois em 2012, pelo que parece, será diferente.

A começar pela equipe ter obtido um equilíbrio que beira a raridade e ter feito uma primeira fase para lá de tranquila no torneio continental. O pesadelo de voltar para casa mais cedo foi vencido a cada etapa. E os deuses do futebol se encarregaram de colocar o Vasco, Santos e, agora, o Boca à frente do Timão para que, se for campeão, o título seja inquestionável.

Nada que mancharia ou não fosse dada a real relevância necessária à conquista inédita, mas em um país como o Brasil em que, além de vencer, tem que convencer, a taça da Libertadores para o mais que centenário Corinthians não será mero detalhe.

Quarta-feira que vem os 90 minutos que separam o bando de loucos de um sonho que tem tudo para ser realizado. A fiel a dois passos do paraíso e os jogadores prestes a cravar os seus nomes na eternidade. Feito para poucos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Corinthians contra tudo e todos

Leandro Moraes/UOL

O que se viu ontem num Pacaembu encantado como sempre e emocionante como nunca foi o time mais equilibrado do país sair classificado contra o escrete considerado o melhor. E não há insano capaz de dizer que não chegou a hora.


O nunca ter passado das semifinais do torneio sul-americano reservou toques de crueldade à fiel que parecia participar de um espetáculo daqueles em que a sinergia não poupa ninguém, independente da camisa que se veste ou do time que se ama.


Os prelúdios do dia já noticiavam que a cidade teria uma noite especial e a ansiedade fazia a maior cidade do país pulsar no ritmo dos corações alvinegros que vaticinam um jogo que faria jus à eternidade.


Na partida, como era esperado, a respiração de quem a assistia era ofegante. Apaixonados e contrários uniram-se para presenciar um duelo que entraria para a história. Os corintianos iam além, queriam eles mesmos levar a sua maior paixão a uma final em que nunca chegou. E faziam festa linda incapazes até de silenciar no gol feito por Neymar.


O Santos parecia imune à pressão das arquibancadas, jogando ao irritante estilo Muricy, pragmático, que só acordou de vez quando o estádio explodiu com o gol de empate de Danilo.


Era justo e, desta vez, era Corinthians, que carrega com ele uma antipatia por parte dos torcedores de todas as outras equipes do Brasil que não se dá para explicar. O time que, neste ano, é longe de ser brilhante, mas encanta a fiel torcida a cada resultado positivo alcançado.


Uma equipe capaz de tirar lágrimas dos apaixonados. Capaz de chegar à inédita final. Capaz de emocionar até quem não é corintiano.


Que venha o Boca ou a La.U para, como escreveu um gênio, um embate que parece ser o de um time contra o mundo.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O dia em que descobri que até o desespero tem limite


O ano de 2011 dava seus últimos passos e a preocupação começava a virar desespero na incessante procura por um novo estágio. Uma experiência desagradável havia feito com que eu saísse do emprego anterior e a necessidade em ganhar alguns trocados quase me transformou em anúncio ambulante de “busca-se vagas.”

Meus amigos mais próximos sabiam da situação e procuravam ajudar como podiam. Enquanto alguns davam dicas em onde procurar, outros me mandavam contatos de profissionais que eu deveria correr atrás. Foi em uma dessas que recebi um endereço de e-mail para que o currículo fosse enviado. Feito.

Dias depois, eis que uma entrevista fora marcada. Deveria comparecer na tarde do dia seguinte. Confirmei a presença com a certeza de que sairia de lá com alguém para chamar de chefe. O amanhã já era hoje e eu, a caminho da empresa, só pensava na conversa que me esperava. 

Cheguei antecipadamente, o que só serviu para recepcionar uma garota que também participaria da seleção. Eu fazia jornalismo e ela publicidade. Logo imaginei que a atividade era indicada para alunos que cursavam comunicação social. Convidados à dinâmica, a futura publicitária e eu começamos a ser indagados. Por questão de cavalheirismo, as primeiras perguntas foram feitas à colega que conquistara recentemente. Para mim, tanto a interlocutora quanto a concorrente falavam grego.

A entrevista rolava e o papo sobre programas, efeitos e sei lá mais o que me dava a sensação de que algum equívoco tinha ocorrido. Eu não deveria estar ali. Talvez por falta de atenção minha ou de quem recebeu o meu currículo. Torcia para que o que fosse perguntado a mim ganhasse outro rumo. Quando a funcionária se direcionou para esse que vos escreve, a palidez era evidente.

Respostas aqui e acolá, fomos ao teste prático. Tão ou mais desesperador do que a entrevista, a estudante de publicidade levou, no máximo, 20 minutos para terminar. Tínhamos uma hora e os ponteiros já marcavam os 45 do segundo tempo quando terminei o meu. Naquela altura eu só me perguntava como fui parar na empresa, já que não tinha nada a ver com a vaga.

Consciente de que não era o mais indicado, entreguei o teste para a interlocutora e fui embora sem esperar que ela olhasse-o. Ao corrigir, certamente deve ter dado boas risadas com algumas das minhas respostas. Ao menos, serviu para alguma coisa.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Corinthians imponente


Sim, há os idiotas da objetividade que, antes mesmo do jogo começar, procuravam vaticinar atalhos e desvendar caminhos por onde os jogadores de Santos e Corinthians deveriam produzir suas jogadas. Falo desses que insistem em táticas, números e objetividade, incapazes que são de entender que o futebol, na essência, se basta com a arte, o lúdico e o espetáculo.

Na Vila Belmiro, que de caldeirão nada tinha, não se viu o que se esperava do time da casa. No duelo entre o melhor escrete do país contra o de maior equilíbrio não foram os detalhes os responsáveis pela vitória da equipe comandada por Tite.

Se no Corinthians há jogadores dispostos a entrar na história do clube, valentes como sempre e jogando como nunca, o Peixe tinha um Neymar já exausto e Ganso com raros e geniais lampejos, que não foram suficientes perante a falta de vibração da equipe de Muricy.

Das arquibancadas, não saiu a pressão que se anunciara. Dos pés dos meninos da Vila as jogadas não brotaram. Da cabeça do técnico santista as soluções não surgiram. O Santos estava resumido, sem brilho e sem a sua essência. Já o Corinthians, não. Foi imponente, corajoso e inexpugnável, em um dia que até o Emerson, que raramente acerta um chute, acertou um chute raro.

Uma partida que foge de qualquer análise. Um duelo que ainda não está decidido. Uma vaga que ainda está em aberto. Um clássico que o Rei Pelé disse ser o maior jogo do mundo. E, até a próxima semana, será.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Foi Corinthians


Quando o Diego Souza perdeu a chance do jogo, já no segundo tempo, a partida entre Corinthians e Vasco era desenhada como aquelas que entram para história pelo drama, sofrimento e angústia provocados pelo equilíbrio entre as equipes.

A fiel fazia festa linda num Pacaembu lotado e alvinegro na agradável noite paulistana. A bola na trave de Nilton, no lance seguinte ao citado acima, confirmava o que se sabe há tempos que, com o Corinthians, a dor parece ser maior.

Tinha jogo. Era um duelo daqueles que são decididos nos detalhes. Equipes bem montadas e que, até então, não haviam cometidos erros que comprometessem o resultado. Era o Corinthians correndo atrás do desejado título e o Vasco buscando o bicampeonato.

A cidade respirava os ares pintados em duas cores, mas o gol salvador não saia. Para nenhum dos lados. Na raça e no peito o time da casa era valente, jogava no melhor estilo Tite, era perigoso, mas não abria o placar. Já o Vasco, era a cadência simbolizada em Juninho Pernambucano, que parecia não viver seus melhores dias.

O destino já apontava para os pênaltis quando, aos 42 minutos da etapa complementar, em escanteio cobrado, na única falha da zaga carioca, Paulinho apareceu sozinho para ensandecer de vez o bando de loucos Brasil a fora. Era a redenção, a classificação e o alívio. Na garra, na luta e no sofrimento.

Assim, do jeito que o corintiano se acostumou.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A essência do futebol e a (des)esperança na seleção brasileira

Participo da terceira parte da reportagem do SBT Brasil, que pode ser vista, também, aqui.




O tempo passou



Jorge William / O Globo

Desde a eliminação da Taça Libertadores até a estreia no Campeonato Brasileiro, que ocorre neste sábado, o Flamengo teve pouco menos de um mês para por ordem na casa. Todavia, não foi o que se viu. Neste período, houve quem falasse em demissão de Joel Santana, saída de Ronaldinho Gaúcho e até em alguma contratação de peso.


No entanto, de lá para cá, de novidade, mesmo, só as vindas de Ibson, que deve se apresentar na próxima semana, e de Zinho, que, pelo jeito, será mera ilustração. De resto, foi mais do mesmo. Os salários e direitos de imagens atrasados, o treinador exigindo reforços e o camisa 10, como virou hábito, faltando aos treinamentos. Esperar alguma atitude mais rígida da diretoria é utopia barata. A incompetência no clube parece não encontrar limites.


Passados quase 30 dias, nenhuma ação foi tomada para tentar reverter as tragédias que foram as campanhas no Campeonato Estadual e no torneio sul-americano, indignas para um dos elencos mais caros do país. 


A torcida sequer sabe quem serão os titulares no duelo de amanhã. O Flamengo, dentro de campo, é reflexo do despreparo de dirigentes incompatíveis com o que a modernidade exige. O clube, no Brasileiro, está fadado ao fracasso. Não tirou lições das quedas do primeiro semestre para ter um resto de ano que, ao menos, tranquilizasse os torcedores.


Foi quase um mês para drásticas mudanças. Com comandantes assim, nem se tivessem a eternidade.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Lição Santista


Foto:Reuters/Paulo Whitaker



O espetáculo proporcionado pelo Santos na Libertadores da América valeu muito mais do que a classificação para a próxima fase do torneio. Viu-se, ali, uma lição de vida. Porque se o peixe fora tratado de maneira que beira o absurdo no jogo de ida, respondeu a selvageria com bom futebol na partida de volta.

Os acachapantes oito gols no duelo da Vila vieram para provar que artifícios quase amadores não garantem bons resultados. O adversário, o Bolívar, que como principais armas na competição tinha a altitude e o anti-futebol não viu a cor da bola e foi reles protagonista na estrelada noite praiana. Neymar e companhia só não fizeram chover. Pressionaram do início ao fim sem dar chances ao fraco time boliviano.

Gols bonitos foram aos montes. O primeiro, de Elano, foi coisa rara. Já o tento marcado por Paulo Henrique Ganso, de letra, além de merecer placa pela beleza e genialidade ratificou que a intenção dos meninos era mesmo humilhar, tamanha a raiva que estavam devido ao tratamento recebido no jogo anterior.

A desenvoltura, maturidade e encanto que mostra o time de Muricy, para quem viu, remetem aos dourados anos de Pelé. Um futebol mágico, de sonhos, capaz de fazer com que este que vos escreve tenha saudade até do que não viu. No futebol brasileiro, a minha geração não acompanhou nada que se possa comparar ao atual escrete santista, que responde na bola, com gols, alegria e espetáculo os incautos provenientes dos vizinhos sul-americanos.

O Santos é um exemplo. Que todos passem a segui-lo. 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Enxergar é preciso


Ale Cabral



Aqui já escrevi que o Corinthians jamais foi tão favorito a conquistar a Libertadores como agora. O tal equilíbrio, dito e repetido inúmeras vezes por Tite, parecia ter sido alcançado. Fruto, também, das decepções acumuladas em anos anteriores, a estabilidade veio acompanhada do quase inseparável pragmatismo do treinador.

O time não encanta, faz poucos gols e tem como virtude a marcação. A máxima de que primeiro é preciso arrumar lá atrás para depois pensar na frente ganhou corpo no Parque São Jorge. Resultado do dito futebol “moderno”. Foi assim que o time conquistou o Campeonato Brasileiro. É assim que a equipe joga o torneio intercontinental. 

Nessa vida mais do que centenária corintiana, a tão almejada taça é a conquista que falta. O clube quer, a torcida pede e jogadores e comissão técnica sabem da responsabilidade. A cautela adotada pelo comandante gaúcho se deve, além do seu perfil, ao desejo de extirpar a afobação, inimiga responsável por inesquecíveis tragédias. 

Na partida de ontem, contra o Emelec, a tranquilidade que havia se tornado comum foi jogada para escanteio na expulsão de Jorge Henrique e, após o duelo, nas declarações de Mário Gobbi. O juiz foi escolhido a vítima da vez, como se o clube não soubesse que na Libertadores é assim há tempos. Chega a beirar a selvageria.

O equilíbrio emocional corintiano parece ter sido abalado. No entanto, nada que deva colocar em risco a classificação, já que o adversário é fraco. O que não pode é dirigente agir como torcedor, atirando para todos os lados e acusando a Conmebol de tudo. O experiente cartolão sabe como funciona, só não quer enxergar. 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Encontros e desencontros


Após uma tarde chuvosa, a noite pedia uma cerveja gelada. O clima era agradável, como há muito não se sentia na capital paulista. A medida era exata, certa, no ponto, o que dava a impagável sensação de equilíbrio natural das coisas.

O relógio marcava 21h30 quando, ao invés de me enveredar pelos bares ou baladas da Paulicéia desvairada, opto em adquirir uma obra de crônicas recém-lançada do mestre Tostão. A Livraria Cultura fora a escolhida e a Avenida Paulista, como habitual, era magia pura.

Sozinho, mas rodeado de gente – dessas contradições que só São Paulo proporciona – começo a ler o livro mentalmente, antes mesmo de vê-lo, de tocá-lo, como quem busca vaticinar o imponderável. Imagino alguns textos, o formato e logo me vem à mente as obrigações, os prazos e o desespero. Sorte a minha que todos acompanhados da confiança.

Chego ao Conjunto Nacional que é daqueles lugares que se deve conhecer. Dirijo-me à livraria famosa e vou à sessão que me interessa. Entre uma curta leitura e outra, peço auxílio ao profissional que logo traz o que quero. Com o livro em mãos, já começo a pensar no caminho de volta. E como não costumo trocar uma boa caminhada por nada, decido ir a pé para casa, o que é sempre um prazer.

Já na rua, a noite que, para mim, se aproximava do encerramento era só o começo de insanidades que boa parte da juventude está sempre disposta a cometer. Bares lotados e o casual encontro de tribos. Lindo, fantástico, característica que faz da cidade cada vez mais especial.

As cenas de miséria se misturam com as de luxo, algo que nem um dos lugares de metro quadrado mais caro do país fora capaz de exterminar. Uma pena, mesmo, e reflexo do Brasil das diferenças. Passo a observar os que bebem a vida em copos de cerveja. Nas mentes, utopias, reflexões, experiências e inúmeras lições. É um exercício gostoso, prazeroso até.

As pernas já doíam quando noto, vindo em minha direção, muito bem acompanhado, o roqueiro Marcelo Nova, que deixara de ser meu ídolo semanas antes, quando assisti o documentário sobre a vida de Raul Seixas. Apressado, interrompi o diálogo do casal com um boa noite. O “E aí, fera?” foi a resposta, que veio na companhia de um balbucio e da sugestão para atravessar a margem, já que um tumulto se formara à frente do meu ex-ídolo.

Deixei os pombinhos para trás e segui em frente com os meus devaneios. Os pensamentos se voltavam para a vida, o futuro, o presente, as convicções, as mazelas, as soluções e a eterna busca pelos sonhos.

Ah, o livro comprado fora ‘ A perfeição não existe’. O Tostão é gênio!

quarta-feira, 28 de março de 2012

O adeus do Animal





A linearidade da vida não poupa ninguém do inevitável, pois desde que o mundo é mundo é sabido que tudo que nasce irá morrer, numa constatação cruel que ultrapassa raciocínios lógicos, biológicos ou religiosos. E toda vez que o ser humano se depara com a linha tênue que o separa de qualquer atividade as indagações surgem como em dialéticas à La Grécia Antiga.

Tudo isso para falar da aposentadoria de Edmundo. Um dos craques que vi jogar, que me fez chorar muito mais do que sorrir. Um ser humano na real acepção da palavra, de erros e acertos, ídolo de várias cores, homem de muitos amores, capaz de trocar o profissionalismo pelo carnaval e o amadorismo pelos sonhos.

No Vasco virou príncipe. No Palmeiras animal. Passou pelo Flamengo, Napoli, Fluminense, Figueirense e tantos outros. Na Seleção foi um daqueles casos em que só o imponderável explica. Na Copa da França chegou a jogar alguns minutos, numa partida que já estava decidida. O fato é que Edmundo jamais precisou da Amarelinha para provar quem ele é.

Personalidade forte, sempre acreditou nas suas convicções. Jamais abaixou a cabeça, coisa casa vez mais rara na passividade que assola o encantador esporte. Personagens como o Edmundo são escassos.

As lágrimas que escorriam, nas épicas vitórias vascaínas sobre o Flamengo, serviram para ensinar o peso da derrota, a se portar nas adversidades e a lidar com a vitória quando ela viesse. Porque Edmundo, embora muitos vejam somente defeitos, talvez sem imaginar deixou lições.

E o fim, que no fundo simboliza um novo início, como não poderia ser diferente, veio onde ele começou, no Rio de Janeiro, com a camisa do Vasco em São Januário num enredo fascinante.

Uma justa homenagem.

O futebol sentirá sua falta, Animal.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Quando a mediocridade vira regra


Há quem diga que o futebol imita a vida, o que não deixa de ser uma verdade. Tanto que o fascinante esporte comete certos pecados. Injustiças até. Os deuses que dele cuidam parecem ser reles mortais, que erram e acertam como qualquer ser humano.
As provas estão aí, nos dias dos jogos, em partidas memoráveis e em outras em que esquecê-las se torna martírio. Imaginar que a Seleção Brasileira de 1982, comandada por Telê Santana, fora eliminada pelo mediano escrete italiano chega a ser uma afronta. E saber que os selecionados por Parreira, em 1994, exceção a Romário e mais alguns, foram campeões é de causar arrepios.
E a partir daí o resultado ganhou a importância que antes era atribuída ao espetáculo. Pois se o Barcelona vence e convence a todos com um mínimo de raciocínio, no futebol brasileiro, hoje, os destaques são treinadores em que a burocracia diz por si só. Vide Tite, Abel Braga, Felipão e Muricy Ramalho.
Por aqui, no período de antanho, cor, ginga e molejo foram incluídos no esporte mais apaixonante do planeta. Nos dias atuais, pregam o retrocesso. E maus exemplos não faltam.
Temos um campeão nacional de causar pena, que prefere vencer pelo placar mínimo e sofrer a dar espetáculo e encantar. O estilo de Neymar e companhia exige uma maneira de jogar mais ofensiva, algo que parece inconcebível ao cérebro do técnico santista. Isso sem falar no Fluminense de Abelão, que mesmo com jogadores extraordinários, volta e meia é escalado com volantes em demasia.
O futebol brasileiro chegou ao ponto em que a preocupação em não perder superou a vontade de ganhar. O que só a falta de neurônios explica. Porque, se perguntados, alguns treinadores usarão argumentos táticos que nem eles mesmos entendem e justificarão a cautela com resultados, afinal, enquanto Fluminense e Corinthians vão bem nos estaduais e lideram seus grupos na Libertadores, o Santos é o último campeão dela e faz razoável campanha na competição.
O que, para os admiradores do futebol de resultados, é um bálsamo, como escreveu alguém, satisfeitos em sua ignorância, o pior tipo de burro que existe, aquele feliz, o que é uma praga quase invencível.

domingo, 18 de março de 2012

Noite espetacular


Planejei, há certo tempo, algo divertido para ser feito a dois, em comemoração a uma data especial. A decisão, evidentemente, não fora fácil. À minha frente e passando pela mente, as infinitas opções que São Paulo oferece. E aí está uma das vantagens em morar na cidade que não para. A intenção era sair, descontrair e entreter. Coisas que namorando ou não deve-se fazer sempre que possível.

A escolha pelo cinema acompanhado por um jantar veio sem contestação. Já o filme a ser assistido criou problemas. No fim, o longa francês ‘O Artista’, para a minha alegria, foi visto. Por sinal, muito bom. Com alguns clichês, porém não é o abacaxi repulsivo que o Arnaldo Jabor falou. Indico.

Ao sair da sala, a Avenida Paulista, encantadora como sempre, dava as boas vindas. Era uma noite agradável, de clima ameno e inspirador. O próximo passo seria o jantar. O apetite agradecia. Penso, hesito e sugiro pizza e cerveja gelada. Sugestão aceita.
Da famosa avenida partimos rumo à rua não menos conhecida, a Augusta. Para mim, o lugar mais mágico da cidade. Ponto de encontros, de misturas, de estilos, de ritmos, de sons e de ideias. Enfim, um ambiente em que é possível viver sem preconceitos. A Pizzaria Vitrine abriu as suas portas e nós entramos.

Fiquei satisfeito, logo de cara, por ser dia de show na casa. Eis uma combinação que beira a perfeição: amor, pizza, cerveja e boa música. O alto volume produzido pela banda e distribuído pelas caixas de som do estabelecimento, ao contrário do que muitos possam imaginar, não incomodou. Pelo contrário, me proporcionou falar ao pé do ouvido. Coisa de gente apaixonada.

A ocasião já era especial e encontrar, casualmente, uma grande amiga completou a ímpar sensação. É a prova de que a vida está nas surpresas. Dali, optamos por uma das diversas baladas da região. A amiga se enveredou por outras trilhas. E não sem motivos.

Chegamos ao destino que agradara mais a minha companhia do que a mim. Mas quando se namora é assim, ora ou outra alguém irá ceder. E fiz sem arrependimentos. Com o espaço lotado, o atendimento tende a gerar uma insatisfação. E gerou. Demora em pegar alguma bebida e feito heróico para retornar ao local que você estava, tamanha a quantidade de pessoas.

Uma constatação é que sou cada dia menos de baladas. O que não quer dizer que nunca mais irei, mas é certo que as ausências serão maiores. Não me sinto mais à vontade nos recintos em que o público vai com um único objetivo. E sem julgamento moral algum.

Ao fim da noite ou início do dia, como preferir, era a hora de ir para casa. E eu voltava feliz da vida pelos momentos, encontros e com a companhia mais especial do mundo.

Viver é mesmo para poucos.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O futebol, a mesmice e o inexplicável



Pensar o futebol sem os clichês entre o céu e o inferno, a glória e a derrota e o herói e o vilão é tarefa quase impossível nos dias hodiernos. Faz parte do esporte o tal antagonismo, a superação e a necessidade de incorporar atributos de tragédias e superações como quem relata a trajetória do herói mitológico que desce ao báratro e volta para refazer sua própria história.

O esporte mais praticado no mundo é, na verdade, uma grande repetição. Algo cíclico, que no Brasil ganha um viés preocupante. Os exemplos ganharam os holofotes nos últimos dias.
A renúncia do Ricardo Teixeira, desde 1989 no comando da CBF, por exemplo, representa muito mais do que a queda de um ditador. Significa a manutenção da esperança que, se em outros lugares, é a última a morrer, por aqui quase virou múmia pronta a ser sepultada.

Outra notícia curiosa fora a saída iminente de Adriano do Corinthians. Um alto investimento, de retorno questionável, aliado ao comportamento anti-profissional, obrigou o clube a optar pela lógica, deixá-lo livre para procurar outro ambiente.

E o futebol brasileiro segue seu rumo, sem direção alguma, pois na CBF, José Marín, que o passado diz por si só, é o substituto do genro de João Havelange. E se o clube detentor da segunda maior torcida do país fechou as portas ao imperador, o Flamengo fez questão de abrir, oferecendo sua estrutura para a recuperação do jogador. Nada mais conveniente para aqueles que lutam em prol da mesmice, do mais do mesmo.

Tão evidente quanto a reformulação necessária na Confederação Brasileira de Futebol – e aqui não vão receitas de sucesso, nem regras que devem ser seguidas tão óbvias que são – é o reconhecimento de que o problema do Adriano extrapola as quatro linhas, já que se tornou caso de saúde pública. E nem cabe a nós qualquer conclusão, pois o vício não requer julgamento.

O que precisamos é de uma nova mentalidade, voltada à modernidade e sob a égide dos dias atuais. É inconcebível e incompreensível ainda não termos entrado nessa nova era que já está em pleno curso. Algo que seria até natural, mas que por aqui se torna inviável. 
De fato, não dá pra entender o Brasil e o seu futebol, um lugar em que mudança significa manutenção. Buscar esclarecimentos é garimpar no seco. E tudo continuará como está, alegria de poucos e passividade de muitos.

Compreender é enlouquecer.

Como escreveu alguém, certa vez, talvez nem Freud explique o país da gente bronzeada.