sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Devaneios

O verão se faz presente na estação das flores


A sensação de algo errado vem à tona.


Num mundo confuso, invertido e com relações cada vez mais distantes,


Surgem pensamentos e algumas reflexões:


Viver, além de muito perigoso, é para poucos.

sábado, 10 de setembro de 2011

O último suspiro

Num lugar longínquo, esquecido pelo tempo, onde só é possível observar grandes serras e extensões de terra a perder de vista, um homem, absorto, agoniza.

Naquela morada rústica, antiga, histórica e imponente, nenhuma visita é recebida há longos e demorados anos, a não ser a solidão, que, certo dia, veio na companhia do seu fiel escudeiro, o ostracismo. E, a partir dali, ambos jamais deixaram o novo, que se tornara eterno, hábitat.

O velho, já definhado pelas marcas do passado, tem como única munição a sua, ainda viva, consciência.

E, em cima de uma cama, prostrado há três dias ininterruptos, o senhor estende o braço e leva a mão trêmula ao telefone.

Sem forças até para levar o aparelho ao seu colo, ele procura o nome daquele que, por anos, fora o seu maior inimigo.

Quando o encontra, hesita, pensa, reflete e, num impulso de derradeira lucidez, faz a ligação.

Do outro lado da linha, a muitos quilômetros de distância, o espanto se mistura com o faro.

— (…) Quanto tempo, senhor mandachuva.

— Calei-me por muitos anos e agora resolvi falar o que sei — respondeu com as limitações que a doença lhe impôs.

— Mas logo no momento em que nenhum cidadão se lembra mais de vossa excelência. Por quê? — indagou o combatente inimigo.

— Talvez porque tenha chegado a hora.

— Sempre tentei, em vão, uma entrevista exclusiva e o não era a resposta de praxe — afirmou o intrépido.

— À época, como bem sabe, se eu falasse metade do que sei, estaria assinando meu atestado de morte — disse o idoso.

— Então, diga-me, o que quer falar? O que o senhor escondeu enquanto esteve no poder?

— Tudo o que você falara, acusara e publicara era a mais pura verdade — respondeu o ancião.

— Quer dizer que os desvios de verbas, que eu tanto questionei, aconteceram?

— Sim — revelou num diapasão monossilábico.

— E o dinheiro, que destino tomou?

— Lavei em empresas fantasmas e ergui meu patrimônio — contou com a voz cada vez mais fraca.

O jornalista, já preocupado, solta:

— O senhor está bem?

E a resposta, com um esforço hercúleo, veio após longos segundos:

— Nunca me senti tão bem na minha vida.

E o que se ouviu, a partir daquele momento, foi o silêncio.

O velho mandachuva proferia suas derradeiras declarações e fechava os olhos pela última vez.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Vitória com cara e jeito de Corinthians

foto: globoesporte.com

Sob pressão, Corinthians e Flamengo entraram em campo com duas frases que resumem bem o tamanho das equipes. Se pelo lado alivnegro um espirro se torna uma pneumonia, como proferiu, certa vez, Vampeta, pelos ares da Gávea um inofensivo pum teve um efeito devastador, comparado ao que sua função escatológica anuncia.

O clima de decisão estava estampado nas faces dos protagonistas. E nem bem a bola rolou o time da casa foi para cima como se não houvesse amanhã. O visitante, acuado, sentia a pressão de um estádio lotado. E se Pacaembu cheio, em jogo do Corinthians, já é pleonasmo, imagine a Fiel dando mais um show no seu reduto.

A partida, com 16 minutos jogados, era jogo de um time só. Já eram seis finalizações do time de Tite contra, somente, uma da equipe carioca. Enquanto o Flamengo pouco ameaçava, o gol dos paulistas se desenhava a cada investida, ora com Emerson, outrora com Alex e Paulinho.

O jogo estava longe do equilíbrio e o escrete da Guanabara insistia nos chutões. Em um dos bancos, Luxemburgo era o símbolo do desespero. No outro, o técnico corintiano era pura apreensão. A Fiel, nas arquibancadas, fazia a diferença, pois não contente em só incentivar o seu bando de loucos, deixava os adversários num estado de nervos daqueles em que beiram a loucura.

O embate que tinha tudo para ser lá e cá, era só lá, até que o imponderável, sem pedir licença, apareceu na agradável noite paulistana. Em chute de Tiago Neves, apagado até então, Júlio César fez boa defesa e jogou para escanteio. E, num dos corners cobrados por Ronaldinho Gaúcho, Renato desviou e Deivid, ex- Timão, abriu o placar no clássico do povo, aos 30 da primeira etapa.
Com o duelo menos desigual, o fim do primeiro tempo veio acompanhado da prova de que lógica e justiça não fazem parte do futebol.

Liedson e seus companheiros subiram ao gramado obstinados a virar o placar, porque time que quer ser campeão luta contra árbitro, gramado ruim, má fase e injustiça. O início do tempo final mantinha o mesmo diapasão, com o Timão mais perto do empate do que o Flamengo do segundo gol.

À aquela altura, os gritos da arquibancada ecoavam pelo Brasil afora, pois a torcida do Corinthians não é daquelas que prevêem que algo de bom irá ocorrer, ela faz acontecer, tanto que Liédson empatou a final antecipada e confirmou umas das máximas mais antigas do futebol: todo ex-jogador do Flamengo adora marcar contra seu antigo clube.

Antes do gol, e do soco, até bola na trave teve, em falta cobrada por Chicão.

A virada à la Corinthians era iminente e parecia inevitável.

O Pacaembu era um espetáculo em duas cores. O antagonismo do preto e branco misturado ao entusiasmo.

E o Timão ia para cima, pressionava e fazia por merecer maior sorte.

A vitória era necessária para reconquistar a liderança e, claro, para homenagear o eterno ídolo, o Dr. Sócrates.

Aos 43, veio o lance da redenção. Em lance desviado por Paulinho, ele, sempre ele, Liédson pegou de primeira para virar o placar.

Era o resultado necessário.

Depois do gol, olhos e ouvidos se desligaram do gramado e se direcionaram para a arquibancada. A festa estava armada e nem os cinco minutos de acréscimo foram capazes de estragar.

Tinha que ser sofrido, na raça, no peito e do jeito que o corintiano gosta.

O time saiu de campo sob aplausos e muita satisfação.

Inegável: O Coritnhians voltou a ter a cara de campeão!