quarta-feira, 28 de março de 2012

O adeus do Animal





A linearidade da vida não poupa ninguém do inevitável, pois desde que o mundo é mundo é sabido que tudo que nasce irá morrer, numa constatação cruel que ultrapassa raciocínios lógicos, biológicos ou religiosos. E toda vez que o ser humano se depara com a linha tênue que o separa de qualquer atividade as indagações surgem como em dialéticas à La Grécia Antiga.

Tudo isso para falar da aposentadoria de Edmundo. Um dos craques que vi jogar, que me fez chorar muito mais do que sorrir. Um ser humano na real acepção da palavra, de erros e acertos, ídolo de várias cores, homem de muitos amores, capaz de trocar o profissionalismo pelo carnaval e o amadorismo pelos sonhos.

No Vasco virou príncipe. No Palmeiras animal. Passou pelo Flamengo, Napoli, Fluminense, Figueirense e tantos outros. Na Seleção foi um daqueles casos em que só o imponderável explica. Na Copa da França chegou a jogar alguns minutos, numa partida que já estava decidida. O fato é que Edmundo jamais precisou da Amarelinha para provar quem ele é.

Personalidade forte, sempre acreditou nas suas convicções. Jamais abaixou a cabeça, coisa casa vez mais rara na passividade que assola o encantador esporte. Personagens como o Edmundo são escassos.

As lágrimas que escorriam, nas épicas vitórias vascaínas sobre o Flamengo, serviram para ensinar o peso da derrota, a se portar nas adversidades e a lidar com a vitória quando ela viesse. Porque Edmundo, embora muitos vejam somente defeitos, talvez sem imaginar deixou lições.

E o fim, que no fundo simboliza um novo início, como não poderia ser diferente, veio onde ele começou, no Rio de Janeiro, com a camisa do Vasco em São Januário num enredo fascinante.

Uma justa homenagem.

O futebol sentirá sua falta, Animal.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Quando a mediocridade vira regra


Há quem diga que o futebol imita a vida, o que não deixa de ser uma verdade. Tanto que o fascinante esporte comete certos pecados. Injustiças até. Os deuses que dele cuidam parecem ser reles mortais, que erram e acertam como qualquer ser humano.
As provas estão aí, nos dias dos jogos, em partidas memoráveis e em outras em que esquecê-las se torna martírio. Imaginar que a Seleção Brasileira de 1982, comandada por Telê Santana, fora eliminada pelo mediano escrete italiano chega a ser uma afronta. E saber que os selecionados por Parreira, em 1994, exceção a Romário e mais alguns, foram campeões é de causar arrepios.
E a partir daí o resultado ganhou a importância que antes era atribuída ao espetáculo. Pois se o Barcelona vence e convence a todos com um mínimo de raciocínio, no futebol brasileiro, hoje, os destaques são treinadores em que a burocracia diz por si só. Vide Tite, Abel Braga, Felipão e Muricy Ramalho.
Por aqui, no período de antanho, cor, ginga e molejo foram incluídos no esporte mais apaixonante do planeta. Nos dias atuais, pregam o retrocesso. E maus exemplos não faltam.
Temos um campeão nacional de causar pena, que prefere vencer pelo placar mínimo e sofrer a dar espetáculo e encantar. O estilo de Neymar e companhia exige uma maneira de jogar mais ofensiva, algo que parece inconcebível ao cérebro do técnico santista. Isso sem falar no Fluminense de Abelão, que mesmo com jogadores extraordinários, volta e meia é escalado com volantes em demasia.
O futebol brasileiro chegou ao ponto em que a preocupação em não perder superou a vontade de ganhar. O que só a falta de neurônios explica. Porque, se perguntados, alguns treinadores usarão argumentos táticos que nem eles mesmos entendem e justificarão a cautela com resultados, afinal, enquanto Fluminense e Corinthians vão bem nos estaduais e lideram seus grupos na Libertadores, o Santos é o último campeão dela e faz razoável campanha na competição.
O que, para os admiradores do futebol de resultados, é um bálsamo, como escreveu alguém, satisfeitos em sua ignorância, o pior tipo de burro que existe, aquele feliz, o que é uma praga quase invencível.

domingo, 18 de março de 2012

Noite espetacular


Planejei, há certo tempo, algo divertido para ser feito a dois, em comemoração a uma data especial. A decisão, evidentemente, não fora fácil. À minha frente e passando pela mente, as infinitas opções que São Paulo oferece. E aí está uma das vantagens em morar na cidade que não para. A intenção era sair, descontrair e entreter. Coisas que namorando ou não deve-se fazer sempre que possível.

A escolha pelo cinema acompanhado por um jantar veio sem contestação. Já o filme a ser assistido criou problemas. No fim, o longa francês ‘O Artista’, para a minha alegria, foi visto. Por sinal, muito bom. Com alguns clichês, porém não é o abacaxi repulsivo que o Arnaldo Jabor falou. Indico.

Ao sair da sala, a Avenida Paulista, encantadora como sempre, dava as boas vindas. Era uma noite agradável, de clima ameno e inspirador. O próximo passo seria o jantar. O apetite agradecia. Penso, hesito e sugiro pizza e cerveja gelada. Sugestão aceita.
Da famosa avenida partimos rumo à rua não menos conhecida, a Augusta. Para mim, o lugar mais mágico da cidade. Ponto de encontros, de misturas, de estilos, de ritmos, de sons e de ideias. Enfim, um ambiente em que é possível viver sem preconceitos. A Pizzaria Vitrine abriu as suas portas e nós entramos.

Fiquei satisfeito, logo de cara, por ser dia de show na casa. Eis uma combinação que beira a perfeição: amor, pizza, cerveja e boa música. O alto volume produzido pela banda e distribuído pelas caixas de som do estabelecimento, ao contrário do que muitos possam imaginar, não incomodou. Pelo contrário, me proporcionou falar ao pé do ouvido. Coisa de gente apaixonada.

A ocasião já era especial e encontrar, casualmente, uma grande amiga completou a ímpar sensação. É a prova de que a vida está nas surpresas. Dali, optamos por uma das diversas baladas da região. A amiga se enveredou por outras trilhas. E não sem motivos.

Chegamos ao destino que agradara mais a minha companhia do que a mim. Mas quando se namora é assim, ora ou outra alguém irá ceder. E fiz sem arrependimentos. Com o espaço lotado, o atendimento tende a gerar uma insatisfação. E gerou. Demora em pegar alguma bebida e feito heróico para retornar ao local que você estava, tamanha a quantidade de pessoas.

Uma constatação é que sou cada dia menos de baladas. O que não quer dizer que nunca mais irei, mas é certo que as ausências serão maiores. Não me sinto mais à vontade nos recintos em que o público vai com um único objetivo. E sem julgamento moral algum.

Ao fim da noite ou início do dia, como preferir, era a hora de ir para casa. E eu voltava feliz da vida pelos momentos, encontros e com a companhia mais especial do mundo.

Viver é mesmo para poucos.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O futebol, a mesmice e o inexplicável



Pensar o futebol sem os clichês entre o céu e o inferno, a glória e a derrota e o herói e o vilão é tarefa quase impossível nos dias hodiernos. Faz parte do esporte o tal antagonismo, a superação e a necessidade de incorporar atributos de tragédias e superações como quem relata a trajetória do herói mitológico que desce ao báratro e volta para refazer sua própria história.

O esporte mais praticado no mundo é, na verdade, uma grande repetição. Algo cíclico, que no Brasil ganha um viés preocupante. Os exemplos ganharam os holofotes nos últimos dias.
A renúncia do Ricardo Teixeira, desde 1989 no comando da CBF, por exemplo, representa muito mais do que a queda de um ditador. Significa a manutenção da esperança que, se em outros lugares, é a última a morrer, por aqui quase virou múmia pronta a ser sepultada.

Outra notícia curiosa fora a saída iminente de Adriano do Corinthians. Um alto investimento, de retorno questionável, aliado ao comportamento anti-profissional, obrigou o clube a optar pela lógica, deixá-lo livre para procurar outro ambiente.

E o futebol brasileiro segue seu rumo, sem direção alguma, pois na CBF, José Marín, que o passado diz por si só, é o substituto do genro de João Havelange. E se o clube detentor da segunda maior torcida do país fechou as portas ao imperador, o Flamengo fez questão de abrir, oferecendo sua estrutura para a recuperação do jogador. Nada mais conveniente para aqueles que lutam em prol da mesmice, do mais do mesmo.

Tão evidente quanto a reformulação necessária na Confederação Brasileira de Futebol – e aqui não vão receitas de sucesso, nem regras que devem ser seguidas tão óbvias que são – é o reconhecimento de que o problema do Adriano extrapola as quatro linhas, já que se tornou caso de saúde pública. E nem cabe a nós qualquer conclusão, pois o vício não requer julgamento.

O que precisamos é de uma nova mentalidade, voltada à modernidade e sob a égide dos dias atuais. É inconcebível e incompreensível ainda não termos entrado nessa nova era que já está em pleno curso. Algo que seria até natural, mas que por aqui se torna inviável. 
De fato, não dá pra entender o Brasil e o seu futebol, um lugar em que mudança significa manutenção. Buscar esclarecimentos é garimpar no seco. E tudo continuará como está, alegria de poucos e passividade de muitos.

Compreender é enlouquecer.

Como escreveu alguém, certa vez, talvez nem Freud explique o país da gente bronzeada.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Os últimos passos do Gaúcho


Imagem: Reuters

Na partida de ontem, em que o Flamengo venceu o Emelec pela Taça Libertadores, de novidade, mesmo, só tivemos as vaias da torcida para Ronaldinho Gaúcho. De resto, foi mais do mesmo.

O time de Joel Santana entrou com três zagueiros, mantendo o estilo retranqueiro do treinador. Já o futebol apresentando foi medonho, algo que se tornou de praxe. Quanto ao gol, foi marcado por Vagner Love, único que ainda apresenta certa vontade.

O time de maior torcida do Brasil começou a sucumbir ao atender às vontades e exigências de um sujeito que ninguém sabe muito o que passa por sua cabeça. Pois, se no ano passado, era possível ver lampejos de craque em algumas atuações de Ronaldinho Gaúcho, em 2012, as más atuações viraram regra.

O discurso de que o problema era o Luxemburgo ficou para trás, os atrasos de salário, idem. E, após tomadas essas medidas, o camisa 10 nada mais fez do que ser figura meramente ilustrativa em campo.

Premiado com o maior salário do futebol brasileiro, capitão do clube mais popular do país e titular na seleção de Mano Menezes, R10 conseguiu virar anti-herói da torcida do Flamengo e se distanciar, cada vez mais, da disputa da Copa do Mundo.

E, se por um lado, lhe falta motivação, como alguns dizem, por outro, objetivos a ser alcançados, não.

E é aí que vivem a incoerência, o mistério e os desejos que passam pela cabeça do Ronaldinho. Ninguém sabe o que realmente ele quer.

Talvez, nem o próprio.

Se o ex-craque continua a jogar por conta, somente, do dinheiro o caso dele é para estudo.

Se perdeu a gana, a vontade de vencer e provar do que é capaz, insistir no futebol é ser desonesto com ele mesmo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Privilégio

Sou da geração que cresceu a admirar Romário.

O tendo como maior ídolo e já inoculado pelo vírus do futebol, vi surgir um parceiro que o substituiu para depois virar Fenômeno.

O ufanismo fora posto de lado em meio à contemplação da elegância, da genialidade e do esmero com que a bola era tratada por um tal Zinedine Zidane.

A partir daí, do futebol, eu pouco esperava e já me dava por satisfeito por ter visto três craques, gênios, que entram em qualquer lista dos maiores da história.

Sobre Pelé, é bem verdade, muito li, já ouvi, mas dei o azar de ter vindo ao mundo após o seu reinado.

Maradona até assisti, porém não há quem tire da minha memória sua melancólica saída, por doping, da Copa de 1994.

No entanto, dos deuses do esporte mais fascinante do planeta, eu não posso reclamar. Não me deram o direito de acompanhar nomes como Leônidas da Silva, Garrincha, Didi, Zico, Falcão, Puskas, Di Stéfano, Cruyff e tantos outros, todavia, seria até egoísmo da minha parte desejar ser eterno para poder me emocionar todo fim de semana com algum jogo protagonizado por eles.

E o futebol guarda o seu misticismo e transforma lendas em verdades. De tempos em tempos surgem aqueles que vêm ocupar o lugar deixado por alguém que ficou na saudade.

As expectativas, muitas vezes, viram decepções.

Mas a esperança jamais morre. É infinita.

Ronaldinho, o gaúcho, frustrou.

Robinho, o moleque, desandou.

E quando você começa a cair na armadilha de se acostumar com o jogo em que o resultado é o que importa, os deuses - aqui já citados - aparecem com o encanto de dois jovens para provar que o ludopédio, sim, tem salvação.

Messi e Neymar.

Neymar e Messi.

O argentino do Barcelona, da Catalunha, da Espanha e do mundo.

O brasileiro do Santos, da alegria de todas as torcidas e dos amantes do futebol.

O primeiro já é tido por muitos como o sucessor do maior de todos.

O segundo envereda-se rumo ao topo.

Sorte a minha, a sua e de quem tem o privilégio.

A idolatria já não tem limites.